Thursday, 27 September 2007

Vício




Ela sai a meio da noite para comprar mais uns cigarros
Trás uma garrafa para amolecer o corpo denso
Vai cambaleando devagar por entre os carros
Usa o perfume canela de cheiro intenso

Ela tem os olhos sujos da pintura que borrou
E a roupa é a mesma que ontem usou

Conheci-a nessa loja e engracei com ela
Ela quer um corpo onde perder o juízo
Como te chamas? Chamo-me Daniela e eu "contigo simpatizo"
Jantámos no outro dia perto do casino
Ela foi gastar dinheiro num vestido bem justinho
Pintou o cabelo e as unhas de vermelho
E antes de sairmos olhou-se bem no espelho
Só mais um jogo, um copo e outro traço
Agarra-me na esquina e eu não escondo o embaraço
Pago o hotel, ela já perdeu o juízo
Quer o quarto vermelho e eu "contigo simpatizo"

Tem públicas virtudes e muitos vícios privados
E nessa noite acabámos de corpos bem anestesiados
Tudo o resto para ela não passa de suplícios
Esse mundo é o dela
O seu vício de ter vícios

Ela tem os olhos tristes com a pintura que borrou
E a roupa é a mesma que ela ontem comprou

Acordei naquele quarto e de mim me despedi
Tentei sair dali mas não consegui
Daniela, eu não fui cauteloso
E o meu vício és tu e o teu ciclo vicioso

Wednesday, 26 September 2007

Duas Faces

Vejo-me vazio na frente da televisão
Intermitente
Vacilo nos canais perturbantes
Mas não me distraem a mente
Tremo, não páro, redobro o consumo
Copos partidos no chão da sala cheia de fumo
Tremo, procuro, penso.. é duro
E preciso de uma maneira de saltar o muro
Saio do escuro mas não me mexo
Nem te esqueço
E quem dorme ao meu lado
Eu nem reconheço

Na tranquilidade do meu absoluto
Vens-me massacrar com o teu vulto
Estou quase a chegar, já vejo o fim do meu mundo
Continuo a nadar nesse meu poço, lá no fundo
E não vou parar, se parar
O caminho será mais curto


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Vejo-me vazia, fumo mais um cigarro
Memorizo frases que escrevi há bocado
Bebo outro copo, não consigo dormir
A cabeça está cheia de pensamentos a ruir

Penso que crescemos e não soubemos lidar
E o que aprendemos não soubemos comunicar
Às vezes pareces dormir ao meu lado
E quando acordo vejo aquele corpo emprestado

Mas massacro-me com decisões arrependidas
Para não se tornarem em memórias ardidas
Mas sabes, diz quem já conheces também
Há coisas que se perdem
Para não serem perdidas

Thursday, 20 September 2007

Doem-me as palavras, as mesmas que te doem a ti. Ecoam aqui dentro em modo repetitivo. Ainda não me recompus e adivinho que vá demorar. E só te levantarás quando eu me levantar.

Monday, 10 September 2007